Me lembro de como conheci as festas juninas. Um vizinho meu de idade, de nome Pedro, todo ano fazia fogueira em homenagem ao Santo de mesmo nome. Sentávamos em roda a fogueira, soltávamos balões de jornal, não iam muito longe, mas era o suficiente para olharmos para o alto, para o céu estrelado e com aquele azul escuro, e claro ao mesmo tempo, clareado pelo luar.
Sempre ao som da sanfona, da música caipira tradicional, das músicas tradicionais como Pula a Fogueira ou na maioria das vezes com o bom e velho Gonzagão que também louvava os santos em suas músicas.
Herdamos as festas juninas (ou joaninas como eram chamadas inicialmente) dos paÃses europeus. Sua essência é multi cultural, porém, no Brasil, ela tomou proporções imensas no Nordeste, antes de que qualquer região. Lá, por uma série de coincidências, a festança servia para agradecer aos Santos pelas chuvas que normalmente haviam acontecido nos meses anteriores, visto que é uma região que ainda hoje sofre demasiadamente com a seca.
Talvez por isso então, associamos as festas juninas com o nordeste e consequentemente com as músicas tradicionais de lá, no caso, o forró pé de serra, como ritmo tradicional da festa. Por isso Campina Grande é a capital do São João. De forma nenhuma excluÃmos os outros ritmos da festança, mas é interessante lembrar desta referência Brasileira para com a festa.
Aà entra uma questão pertinente a qualquer entidade que tenha como objetivo incentivar e realizar a preservação do patrimônio histórico e cultural de um estado ou de um municÃpio.
Segundo estudos recentes, 25% da população de Sorocaba é Nordestina e consequentemente trazem consigo raÃzes culturais daquela região.
Bom, qualquer cidadão que fizesse uma pesquisa de 10 minutos na internet sobre festas juninas, suas origens e disseminação no Brasil e em nossa cidade, passearia por estes elementos que expus aqui. Era isso ao menos que eu esperava que a Secretaria de Cultura da minha cidade (Sorocaba) fizesse, porém, infelizmente, não parece que nosso secretário de cultura (pesquisador na área da Pedagogia do Teatro e do Espaço Teatral, Sociologia do Teatro e Dramaturgia http://www.sorocaba.sp.gov.br/secretarias/5/), bem como as demais pessoas que trabalham na Secretária de cultura, tenham perdido 10 minutos de seus preciosos tempos para fazer uma pesquisa e um planejamento para a festa junina de Sorocaba no que diz respeito ao critério cultural.
Sobre um falso pretesto de que a prefeitura não dispunha de verba para realização de tal festa, a secretaria de cultura terceirizou a curadoria e a contratação de atrações da mesma para uma casa noturna de Sertanejo de Sorocaba.
Resultado, 30 shows contratados, sendo 70% deles sertanejos universitários, 29% de bandas de pagode e 1 mÃsero porcento para dividir entre Rock, MPB e Música Caipira de RaÃz.
Forró? O que é isto mesmo? Luiz Gonzaga? Aquele nordestino que completou 100 anos no ano passado e saiu filme? Quem é mesmo? Quadrilha? O que é isto mesmo? Contação de histórias? Brincadeiras Juninas? Adivinhação? O que é isso mesmo?
Resultado cultural dos R$ 300.000,00 gastos na festas (inicialmente): ao invés de louvarmos aos Santos, São João, a chuva, a boa ventura, a diversidade cultural, vamos louvar aos “camaros amarelosâ€, aos “tche tche re rêsâ€, os “ai seu te pegoâ€, os “beber beber beberâ€, os “bará bará baráâ€, tudo isto com o dinheiro suado dos nossos impostos.
A Festa Junina, bem como a Virada Cultural, foi encarada pela prefeitura de Sorocaba como um “problema a resolver” e não como uma oportunidade de investir de forma efetiva em ações culturais transformadoras e enriquecedoras.
Mais uma pra amargurar quem votou no PSDB…